Amado ou odiado: pesquisadores estudam peculiaridades do vento norte na região central do Estado

Letícia Klusener e Vitória Sarturi

Amado ou odiado: pesquisadores estudam peculiaridades do vento norte na região central do Estado

Foto: Divulgação

Amado por uns e odiados por outros, o vento norte é motivo de investigação de pesquisadores. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) conduz uma campanha inédita para investigar o vento norte na região central do Rio Grande do Sul. A ação integra um projeto de pesquisa do curso de Meteorologia e tem como objetivo compreender melhor as características do fenômeno, além de aprimorar sua previsão. O trabalho é realizado com balões que coletam dados em pontos estratégicos levantados pelo grupo. Na tarde desta sexta-feira (22), os pesquisadores realizam mais um lançamento. 

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Segundo o professor Michel Stefanello, o interesse pela pesquisa se deu a partir de inquietações do grupo e de escassas pesquisas relacionadas ao fenômeno de Santa Maria, que é marcante. Diante do problema, os estudiosos fizeram contato com um grupo de pesquisadores da Califórnia, nos Estados Unidos, que estudam o vento, que lá é conhecido como sundowner. Embora a região não tenha uma grande cadeia montanhosa como as da Califórnia, se provoca efeitos parecidos no escoamento do ar: 

– A gente começou a observar  e nos deparamos com algumas questões que não conseguíamos explicar. Como o porquê ser mais intenso aqui do que em regiões mais ao norte, ou sul, e assim por diante. O outro fator é o aquecimento, são rajadas muito fortes, com aumento da temperatura local. 

Foto: Divulgação

O funcionamento da pesquisa

Desde o fim de agosto, estudantes e professores vêm realizando a coleta intensiva de dados atmosféricos em diferentes pontos do município. Mais de 10 estações meteorológicas automáticas foram instaladas estrategicamente ao sul e ao norte da declividade topográfica da região.

Foto: Vinicius Becker (Diário)

Também foram lançados 27 balões meteorológicos em dois locais distintos: Santa Maria e São Martinho da Serra. A atividade contou com o apoio da Base Aérea de Santa Maria e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os balões, equipados com sensores, captaram dados sobre temperatura, umidade, pressão e intensidade do vento em diferentes altitudes. A estrutura da campanha também inclui uma torre micrometeorológica de 30 metros instalada no campus da UFSM, além de sensores de alta precisão que auxiliam na análise detalhada do comportamento dos ventos.

Durante o período de coleta, uma das estações registrou rajadas de vento superiores a 91 km/h, o que evidenciou a força do fenômeno. Foi observado também um jato com 30 m/s próximo aos 500 metros de altura: 

– Ele chama atenção, principalmente, para a aviação. Os aviões que decolaram ou pousaram naquele momento reportaram turbulência severa nessa região. E também como a pista do aeroporto é leste-oeste, temos um vento muito forte de cauda. Não estamos falando de uma brisa, é algo significativo – explica Stefanello. 

De acordo com os pesquisadores, os dados coletados são inéditos e essenciais para aprimorar os modelos de previsão do tempo em escala local e regional. Stefanello relata que como há um custo alto com equipamentos (balão, carretel, paraquedas e sonda) o trabalho é realizado com a previsão do evento, e quando ele acontece: 

– A universidade importa o equipamento direto da fábrica, com custo menor. Mas podemos dizer que quando lançamos um balão, o custo é de R$ 2 mil a R$ 4 mil. Precisamos pensar estrategicamente também para lançar.   

Foto: Murilo Lopes e Mateus Rebelo (Divulgação)

O que é o vento norte

Ele é chamado assim, pois vem do quadrante norte. Ele é caracterizado por um vento quente, que provoca um secamento da baixa atmosfera, associado a fortes rajadas de vento. Segundo Stefanello, ele precede a chegada de uma frente fria: 

– Ele domina, a frente fria chega, derruba a temperatura e traz chuva e frio.  

Foto: Divulgação

Dados iniciais e expectativa

Os dados iniciais também mostraram que o vento norte não se estabelece de forma uniforme em toda a cidade. Em algumas regiões, ele começa com até quatro horas de antecedência em relação a outras áreas, o que indica influência direta da topografia. 

Segundo o coordenador, o objetivo é detalhar as características do fenômeno e, no futuro, melhorar os sistemas de previsão: 

– Esperamos que esse conhecimento ajude a disparar alertas com maior precisão, para que a população e setores, como a aviação, estejam preparados – afirma o professor. 

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